Entrevista com Terumi Nishii para a Manganimation

 

Terumi Nishii, designer de personagens da série “Knights of the Zodiac” da Netflix, e que já trabalhou como animadora e diretora de animação em outros animes de Saint Seiya, deu uma entrevista em 2017, publicada originalmente pelo site Manganimation.net em 02/04/2018 por Rukawa.

Terumi Nishii (2017) 
Entrevista realizada em 11 de agosto de 2017
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Formada pelo treinamento especializado da Osaka Design, Terumi Nishii entrou para o estúdio Cockpit, onde conheceu Yoshihiko Umakoshi. Se os seus estilos são bastante semelhantes por terem influências comuns, Nishii rapidamente voaria por conta própria, tornando-se designer de personagens em “Mawaru Penguindrum”, “JoJo’s Bizarre Adventure Diamond is Unbreakable” e os filmes de “Haikara-san ga tooru”. Seu talento foi bem provado, ela está encarregada de desenvolver o futuro projetos de Saint Seiya em 3D, que será transmitido pela Netflix em 2019.

Em seu tempo livre, Terumi Nishii desenha seu doujinshi “Crown of Ourobos”, que ela vende anualmente na “Comiket” com seu círculo BBM / BKM. Você pode ler a versão em inglês aqui.

Terumi Nishii também abriu uma conta no Patreon, se você quiser apoiá-la.

Consciente da dificuldade que os jovens animadores tem, ela não hesita em se dedicar para ajudar: em 25 de março, ela organizou uma reunião de networking de animadores, de modo que os jovens pudessem encontrar com os mais velhos e para a troca de contatos e conselhos.

Que tipo de série você gostava quando criança?
Saint Seiya! *risos*

O que? Nós começamos diretamente falando sobre Saint Seiya?
Sim, Shingo Araki é um deus. *risos*
Eu sou uma grande fã de Shun, amei o jeito que Ryo Horikawa o interpretou. Quando eu era criança, ninguém acreditava em mim quando eu dizia que ele também era a voz do Vegeta, realmente não parecem ser a mesma pessoa.

Ah, sim, eu entendo porque você foi diretora de animação no episódio da aparição de Shun em Saint Seiya Omega.
Sim, eu pedi a Yoshihiko Umakoshi e ele me permitiu ser diretora de animação desta série. Fiz apenas a correção, mas gosto muito da passagem da Corrente Nebulosa .

Você trabalhou no OVA 3 de Saint Seiya Hades, imagino que foi um sonho para você. No entanto, você não participou de nenhum episódio em que Shingo Araki era diretor de animação. Mesmo assim, você ainda gostou da experiência?
Infelizmente, nunca tive a chance de trabalhar sob o comando de Shingo Araki.
No estúdio, todos sabiam que eu era uma grande fã de Shun, embora eu fosse uma novata, tive a oportunidade de desenhá-lo. Foi a cena em que ele correu no porto, pouco antes de colocar sua armadura. Sou muito orgulhosa de ter feito isso, porque no artbook que compilou os desenhos da série, Araki escolheu minha cena.

Qual é a sua cena favorita de Saint Seiya?
Tem um monte … Eu diria que o segundo filme, “Kamigami no Atsuki tatakai” (“A Ardente Batalha dos Deuses”), que tem muitos passagens cult como toda a cena de Saori suspensa em um barco. Há também a entrada do Ikki… O silêncio de Seiya que tem que salvar Saori, até o final… Realmente, Shigeyasu Yamauchi na direção, não há melhor!

Agora você foi escolhido para ser a designer de personagens do remake 3DCG de Saint Seiya na Netflix, o que você pode nos dizer sobre isso?
Na verdade, no momento, eu não tenho permissão de falar muito sobre o assunto, caso contrário Toei vai bater nos meus dedos… Esta é a primeira vez que a Toei fará uma série de TV em 3D, então será uma nova experiência.
No entanto, estou feliz por ter sido escolhida e farei o meu melhor.
Eu gostaria de falar sobre a abordagem que eu tomei para definir o design, mas eu não acho que estou autorizada por enquanto…

Desde a oficialização deste remake, muitos estrangeiros começaram a segui-la no Twitter. Você tinha consciência da paixão da série no exterior?
Mais do que no exterior, ouvi dizer que Saint Seiya era extremamente popular na Europa, sim. Na Itália, na França … acho que também é muito popular no México? É interessante e lisonjeiro participar desse projeto, isso me coloca sob pressão. *risos*

Saint Seiya pelos Estados Unidos, eu tenho medo que eles adocem o roteiro, a franquia não é conhecida lá.
Isso acontecerá entre os EUA e o Japão, lá, eles cuidarão do roteiro e da produção e aqui vamos cuidar da animação.
Eu entendo que todos que cresceram com a série original estão um pouco preocupados sobre como os americanos irão adaptá-la.

O remake em 3D está previsto para 2019 e será dirigido por Yoshiharu Ashino (Tweeny Witches, Cross Angel). Nesse meio tempo, a Netflix FR disponibilizou os OVAs de Saint Seiya Hades.

 

Shun por Terumi Nishii

 

Qual foi o seu histórico antes de se tornar uma animadora?
Originalmente, eu queria me tornar mangaka. Na época do ensino médio, assisti a séries como Evangelion e Utena. Eram séries que achava realmente excelente e que me faziam querer saber mais sobre esse ambiente. Eu já sabia como um mangá era feito, mas não fazia ideia de como uma animação era feita. Então me interessei e isso me fez querer trabalhar nesse ambiente. Então eu fiz um treinamento especializado, depois entrei no Studio Cockpit, onde realmente aprendi o trabalho.

Para entrar no Cockpit Studio, parece que você foi entrevistada por Masaaki Iwane.
Ele é um personagem interessante, há muitas lendas em torno dele. Eu sabia quem ele era, eu já o encontrara algumas vezes, desde que ele veio à escola como palestrante. Tudo correu bem, eu não tive pressão em particular.


No entanto, foi Yoshihiko Umakoshi quem tomou conta de você.
Não, meu primeiro tutor foi Hisashi Kagawa, o designer de personagens de Fresh PreCure. Foi ele quem cuidou de mim quando comecei.

Mesmo assim, dá para sentir uma enorme influência de Umakoshi em seu estilo.
Certamente porque, basicamente, nós dois gostamos do traço de Araki. Porém, mesmo que tenhamos um estilo semelhante, eu diria que sua influência é acima de tudo humana, tanto como homem quanto como animador. Ele me ensinou sua maneira de ver as coisas, que você sempre tem que ver além. Por exemplo, para fazer um personagem rir em um anime, um animador normal terá apenas dois ou três padrões, mas ele é capaz de desenhar dez alternativas.
Ele também me explicou como gerenciar adequadamente os contra-campos, bem como o volume.
Seu ensinamento me serviu muito.


É por isso que vocês costumam trabalhar junto em seus projetos.
Comecei a trabalhar com ele em Jubei-chan, mas é verdade que ele me ofereceu para trabalhar com ele em Mushishi e Casshern Sins. Tive a sorte de estar rodeada de animadores talentosos ao longo da minha carreira.

No entanto, você não está em “Boku no Hero Academia”.
Devo dizer que estou um pouco ocupada no momento, estou terminando o filme “Haikara-san ga tooru”, que está previsto para novembro.

A propósito, como você chegou a ser designer de personagens dos filmes de Haikara-san?
Os produtores da Nippon Animation entraram em contato comigo porque me escolheram desde o início da produção. Eles me pediram para fazer algumas ilustrações para ver se o meu estilo se encaixava com a série.

Para o design das fantasias de Haikara-san, você não esteve sozinha, você foi ajudado nisso.
NaSka tinha o mesmo papel que designer de figurino de teatro ou filme, ela foi designada para essa posição-chave com urgência.
Embora a obra original tenha ocorrido durante a era Taisho, por volta da década de 1920, a publicação foi feita nos anos 70 e havia uma mistura de roupas da moda de ambas as épocas. Não me sentia à vontade com isso e, ao reajustar esse ponto, reduzimos os anacronismos no trabalho.

Haikara-san ga tooru é conhecido na França sob o título de “Marc et Marie”. O primeiro filme foi lançado em blu-ray no Japão, em 24 de abril, e o segundo filme não tem data ainda, mas está planejado para 2018. O diretor mudou, mas Terumi Nishii está confirmada como designer de personagens.

 

A primeira série onde você esteva como diretora de animação regularmente foi “Fushigiboshi no futago hime”, que não era desenhada por Umakoshi.
Eu já tinha várias sido vezes diretora de animação em Doremi. A profissão faz isso, os animadores executam várias séries. Então trabalhei com ele novamente em Mushishi.

 

Entre os outros discípulos de Umakoshi está Marie Ino com quem muitas vezes você trabalhou, como é trabalhar com ele?
Na verdade, esta é a minha kouhai [n.t.: o novato, seu protegido no trabalho, o oposto de senpai], não dela, por isso é uma influência indireta. *risos*
Basicamente, a linhagem é Masami Suda, Jun’ichi Hayama, Yoshihiko Umakoshi, eu, e então Marie Ino. *risos*.
Além do mais, Hayama não terminou sua cena de Haikara-san, ele não virá amanhã ao Comiket. * Risos *
Ino é muito talentoso e consciente, então quando eu trabalho com ele, eu confio e deixo as rédeas livres o suficiente.

 

Você também trabalhou regularmente para o estúdio Gainax no início de 2000 em séries como Gurren-Lagann e Diebuster.
Eu sou da mesma classe que a Shouko Nakamura, que está na IG Production e que participou em vários animes produzidos pela Gainax. Foi ela quem me chamou para trabalhar com ela em seus projetos.

 

Em Mawaru Penguindrum, Shouko Nakamura foi responsável por muitas coisas, mesmo sendo basicamente uma simples animadora. Qual foi o seu papel exato? Em uma entrevista anterior, Kunihiko Ikuhara foi vago sobre o assunto.
Havia um monte de problemas de produção, tinha uma escassez de pessoal, ela foi definida para acumular um número de posições.
Isto é provavelmente porque Ikuhara não queria falar sobre isso. Normalmente, ele é um verdadeiro tagarela. *risos*

 

Que tipo de diretor é ele?
É um diretor que está mais frequentemente fora do estúdio do que atrás de nós para dar direções, por isso temos uma grande liberdade operacional.

 

Quais foram as dificuldades para usar o design dos personagens criados por Lily Hoshino?
Seus designs são difíceis de animar, de fato. Eu tinha que levar isso em conta para retomar seus personagens e torná-los adaptáveis para animação. É preciso prestar atenção ao cabelo e etc…
Talvez eu achei difícil porque foi o meu primeiro trabalho como designer de personagens. Se eu tivesse que pegar de volta estes personagens com a experiência que tenho hoje, talvez eu achasse menos difícil, mas naquele momento, passei por muita coisa.

 

Eu acho que Shingo Araki também teve seus momentos difíceis,  pelos cabelos em Saint Seiya.
*Risos*
Desde que é em 3D, não vai ser o meu trabalho. *risos*

Como você chegou à parte 4 de “Jojo’s Bizarre Adventure Diamond is Unbreakable”?
Cada parte de JoJo tem seu próprio designer de personagens e, portanto, seu próprio estilo, a produção simplesmente pensava que meu estilo seria adequado para essa parte.
Pessoalmente, eu não era grande fã da série, mas, como todo mundo, eu a havia lido quando estava na faculdade. O que eu mais lembrava da série eram as partes 3 e 4. A minha parte favorita é a 3, mas estou feliz de ter participado na parte 4, porque tem o Jotaro, afinal, JoJo, é Jotaro não é?

 

O estilo de Hirohiko Araki daquela época ainda era bem duro, como você fez para suavizá-lo?
Era a partir da quarta parte que o estilo de Araki começou a evoluir. Eu não estou deste lado, mas nós tivemos que garantir que os fãs de BL também gostassem. No entanto, acabei desenhando com o meu estilo habitual.

 

O mangá de JoJo é conhecido por suas poses particulares. Como faz esses momentos fixos em animação sem desacreditar a cena?
Como foi a terceira série, acho que aqueles que trabalharam nela já estavam acostumados com o universo de JoJo. Essas passagens de poses foram muito bem gerenciadas pelos responsáveis ​​pelo storyboard, são eles que colocam as poses na hora certa.
Em anime, sempre será estranho esse tipo de pose vir do nada, mas como JoJo, você espera por essas poses.
Quando eu era jovem, eram cenas bastante comuns com momentos congelados com o personagem fazendo pose. Desde a chegada da moda das séries moe, tivemos menos desse tipo de realização.
Adorei o final dos episódios que pararam em um pincel, ficou magnífico.

Com o seu doujinshi, podemos dizer que você alcançou o sonho de infância, ser um pouco mangaka.
De qualquer forma, é um pouco mais sossegado do que ser uma animadora. *Risos *

 

Por que ¥endaman está em inglês?
O personagem é muito quadrinhos americano, então me sugeriram traduzir. Eu não falo inglês, então pedi a alguém para traduzi-lo. Pessoalmente, às vezes, uso um aplicativo para responder a certas mensagens de fãs. *Risos *
No entanto, tento aprender inglês quando tenho tempo livre.
Nas redes sociais, um amigo traduz minhas mensagens em espanhol.
No Japão, há cada vez menos crianças, portanto cada vez menos leitores. Eu acho que o mangaka também deve visar o mercado externo.

 

Intérprete: Pierre Giner
Agradecimentos: Stéphane Lapie (JSICMF) e Lyph
Correção: coindetable

Originalmente publicado em Manganimation.net em 02/04/2018 por Rukawa.