Shiori Teshirogi: Cartoonist 2013

Em abril de 2013, Shiori Teshirogi, autora de The Lost Canvas, participou de uma conferência realizada no tradicional evento francês Cartoonist, ocorrido em Nice. Tomei a liberdade de traduzir para o português 2 entrevistas, uma francesa e outra italiano, que nos trazem mais elementos interessantes sobre os bastidores do desenvolvimento da série The Lost Canvas.

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Cartoonist 2013: Shiori Teshirogi – “Kurumada me deu carta branca”

por Patrick Le Naour em 24/04/13

Fontes: Unification France

 

Em 2005, Shiori Teshirogi não poderia imaginar que desenharia uma prequência oficial de uma de suas séries cultuadas. Mesmo assim, foi ela a escolhida para desenhar Saint Seiya: The Lost Canvas, história ambientada 200 anos antes das aventuras dos Cavaleiros do Zodíaco e e relatando a batalha entre os Cavaleiros de Atena e os Espectros de Hades. O mangá resultou numa nova série de OVAs em curso. Apesar da história do mangá ter sido concluída, Shiori Teshirogi não terminou com o universo de Saint Seiya. Ela está atualmente trabalhando em The Lost Canvas Chronicles (sic) (n.t.: é como chamam os Gaiden), coleções de histórias anexas à história principal. Encontramos a autora que gentilmente respondeu à nossas perguntas.

 

Saint Seiya teve um impacto particular na sua carreira?

Sim, mas além de Saint Seiya,  toda a obra de Masami Kurumada influenciou na minha carreira.

Como você chegou em The Lost Canvas?

Há muito tempo atrás, eu fui a uma sessão de autógrafos de Masami Kurumada. Quando eu o encontrei, ofereci a ele um de meus mangás que foi publicado e eu lhe disse: “Eu me tornei uma desenhista profissional graças a você que influenciou na minha carreira”. Eu pensei que iria parar por aí, mas dois anos depois, ele entrou em contato comigo dizendo que havia lido o meu livro. Ele achou excelente e me chamou para desenhar o seu novo mangá de Saint Seiya. E foi assim que aconteceu. Foi realmente extraordinário.

Masami KURUMADA (sic) persoalmente envolveu-se em escrever The Lost Canvas?

Quando Lost Canvas começou, ele apenas me deu uma lista de cenas-chave e eventos para seguir com a história e disse para utilizá-las para produzir meu roteiro. Como Lost Canvas durou mais do que o previsto, eu recorri rapidamente à lista e Kurumada-sensei me disse: “Não tem problema Teshi, eu deixo você fazer o que você quiser daqui para frente. Você tem total liberdade.”

The Lost Canvas Chronicles (Gaiden) (sic) se prepara para ser lançado na França. Você tem outros projetos em torno de Saint Seiya?

Quando eu chegar ao final de The Lost Canvas Chronicles eu gostaria de lançar uma nova série em paralelo que misture realidade e fantasia. Acho que devo ser capaz de fazer as duas séries ao mesmo tempo que prossigo à vida de Chronicles. Estou trabalhando nisso com meu editor.

Em The Lost Canvas aprendemos que o cavaleiro de Touro é chamado “Rasgado” (sic) e que Aldebaran é na realidade um título possuído pelo portador da Armadura. Na sua opinião, qual poderia ser o verdadeiro nome do Cavaleiro de Ouro da série original?

Eu realmente não sei. Eu escrevi este episódio para fazer uma cena comovente com seu aprendiz, Teneo. Não era forçosamente para oficilializar um cânon no universo Saint Seiya. Eu não sei se o Sr. Kurumada já pensou sobre esse tipo de coisa.

 Mesmo para um personagem de Saint Seiya, Rhadamathe (sic) em The Lost Canvas demonstrou uma tenacidade extraordinária ao longo da história. É por você já ser fã do personagem da série original?

Entre os Espectros, Rhadamanthe é um dos que eu mais gosto. Ele dá a impressão de ser o mais formidável e o mais aterrorizante. Eu tentei fazer isso e eu confesso que realmente não queria matá-lo.

Como você resumiria sua relação de trabalho com o seu editor?

Eu mudei de editor três vezes. No início da série, eu estava trabalhando com duas pessoas que estavam observando atentamente o que eu estava fazendo, porque eu era quase desconhecida e eles não queriam que eu fizesse qualquer coisa com o universo Saint Seiya. A medida que a série avançava, eles me deram mais liberdade. Destes dois editores, há um que mudou três vezes, enquanto o outro ficou comigo por sete anos de publicação do The Lost Canvas. Esta pessoa se preocupava mais comigo por algum tempo e foi também a sua partida me motivou a querer trabalhar em uma série original.

Em relação a estes dois editores, tinha um que foi muito difícil para mim. Mesmo quando eu estava à beira da exaustão, ele continuou a reivindicar as páginas. Foi muito ruim. O segundo (o que se manteve o tempo todo) tinha sempre ideias completamente malucas que foram abandonadas, pois necessariamente estava pedindo o impossível. Por exemplo, na passagem do Cavaleiro de Virgem, ele disse, “Bem, seria legal se existisse uma estátua de Buda que lutasse com uma estátua de Athena! “. Ou após a morte do Aldebaran, “Bem, seria engraçado se o Cavaleiro dos Morcegos (sic) tivesse alto-falantes nos pés para ele estourar tímpanos! “Ele sempre tinha ideias inacreditáveis que não foram escolhidas.

Obrigado a Gregory Hellot

 

Cartoonist 2013 – Entrevista com a autora de Os Cavaleiros do Zodíaco – The Lost Canvas – O Mito de Hades, Shiori Teshirogi.

22 de abril de 2013, 20:00 | por Marlen Vazzoler

Shiori Teshirogi foi escolhida por Masami Kurumada para a realização do mangá Os Cavaleiros do Zodíaco – The Lost Canvas – O Mito de Hades, um trabalho paralelo sobre a sequência / prequência ‘oficial’ do mangá de Saint Seiya, Saint Seiya – Next Dimension. A autora explicou que o seu trabalho tem sido definido por Kurumada sensei e…

Em agosto de 2006, nas páginas da Weekly Shonen Champion começou a serialização de Os Cavaleiros do Zodíaco – The Lost Canvas – O Mito de Hades, um mangá que narra a primeira Guerra Santa que ocorreu 243 anos antes dos eventos descritos no mangá de Os Cavaleiros Zodíaco, de Masami Kurumada. Na série de Shiori Teshirogi conta a história de Tenma, Aron (sic) e sua irmã Sasha, que se encontram lutando uns contra os outros por duas facções diferentes: Tenma é a reencarnação do cavaleiro de Pégaso e foi acolhido por Atena, por sua vez reencarnada como Sasha, Aron foi escolhido como um recipiente para Hades. A publicação começa em paralelo à nova série de Kurumada, Saint Seiya – Next Dimension, ao mesmo tempo, a sequência oficial e prequência para os eventos na série original.

Durante o Cartoonist, tivemos a oportunidade de entrevistar Teshirogi e falar sobre o mangá, e seus projetos passados ​​e futuros.

Por que você decidiu ambientar a história de Lost Canvas na Itália? Veio para a Itália para fazer uma pesquisa para a ambientação dessa parte da história?
Eu não era a pessoa responsável por essa história na época, era Masami Kurumada, o verdadeiro autor da história de Saint Seiya. Em seu mangá, Tenma e Alone, os dois heróis, encontravam-se em Florença, então eu tive que seguir as suas idéias, e eu tive que definir a história em Florença no início da história. Infelizmente eu nunca fui à Itália.

Nós tiramos uma curiosidade que vem do problema da transliteração do “r” na linguagem do Ocidente, com o nome de Alone. O nome correto é Alone ou Aron? Foi escolhido evocar a solidão do personagem?
Seu nome é Alone, e a escolha foi voluntária, pois serve para indicar que ele está completamente sozinho.

Que indicações recebeu de Kurumada sensei (sic)? Estava relacionado apenas ao início ou à história toda?

Masami Kurumada me deu um roteiro, me deu as cenas-chave que queria ver no mangá, e algumas indicações sobre os personagens que eu tinha que seguir. Mas eu estava relativamente livre para fazer o que eu queria. Desde que Lost Canvas durou por muito tempo, eu terminei todas as indicações de Kurumada sensei e ele disse: ‘Oh, você pode fazer o que quiser’.

Qual foi a sua entrada na história, especialmente em relação às personagens femininas, uma vez que aqueles que povoam seu mangá são muito mais fortes do que aqueles nas obras de Kurumada sensei?
Eu não sou o tipo de mangaká que ama personagens moe, aquelas meninas que fazem sons estranhos muito agradáveis. Eu gosto de mulheres fortes. Não vou escrever um mangá com uma mulher que é apenas salva pelos outros, eu quero mostrar uma mulher forte, porque eu acho que as mulheres realmente são fortes e eu as amo. Eu queria fazer uma mudança a partir do que você costuma ver em shounen mangá.

Da sua bibliografia, na Itália só foi publicado The Lost Canvas. Como você recomendaria suas obras inéditas para seus fãs italianos?

Fiz dois mangá antes de The Lost Canvas, o primeiro é chamado de Delivery e conta sobre prostituição. Eu gostaria que os leitores italianos o lessem e que entendessem qual é a situação das mulheres jovens e da prostituição no Japão. Desta forma, talvez eles possam estar cientes de alguns dos problemas sociais que estão presentes em grandes cidades japonesas.

O segundo mangá publicado é Kieli, é baseado em um romance de Kabei Yukako, e acho que ela tem muito talento para contar histórias universais, então eu tenho certeza que o público europeu será capaz de apreciá-lo. Ele também fala da solidão dos jovens, e acho que isso é um sentimento universal entre os jovens que se sentem sós, não acha? Além disso, há histórias sobre jovens que são muito afetados por suicídio. Eu acho que esses mundos muito especiais criadas pelo autor para esta história, pode ser de interesse aos leitores italianos.

Criaram uma série animada baseada no mangá de The Lost Canvas, mas a história foi acelerado em relação ao mangá. O que você acha dos cortes que foram feitos para a história?

Fiquei muito surpreendida com a falta de uma cena no anime, quando Dohko, Tenma e Alone estão conversando, antes de deixar a cidade. ‘Oh, não incluíram!’, eu fiquei muito surpresa. Mas o lado positivo é que a animação sentiu a necessidade de incluir uma explicação em algumas cenas, e eu fiquei muito feliz em escrever novas cenas que não estavam lá no mangá, que foram feitas exclusivamente para a animação.

E qual foi a sua impressão sobre o character design do anime?

No começo eu fiquei muito surpreso, você sabe, Tenma era um pouco grossos. A razão é que eu sempre tive em mente a imagem de personagens da TOEI, que são muito finos. Mas eu falei com o diretor da animação, uma pessoa muito inteligente no que diz respeito ao design, e ele me disse que queria fazer algo que fosse muito detalhado e até um pouco “mais realista do que havia sido realizado com a TOEI. Sabendo disso, eu fiquei realmente muito feliz em ver que o projeto de Lost Canvas é um pouco mais realista.

Depois de terminar os episódios extras dedicados aos Cavaleiros de Ouro em Os Cavaleiros do Zodíaco – The Lost Canvas – O Mito de Hades – Extra (sic), quais são seus planos? Está pensando em um mangá baseado em sua idéia original ou algo baseado em um romance? Ou em colaboração com outro escritor?

Agora eu estou muito interessada em fazer um dos meus mangá originais, eu estou trabalhando enquanto continuo a desenhar The Lost Canvas Gaiden (Saint Seiya: The Lost Canvas – Meio Shinwa, Gaiden é o título original). Eu gostaria de começar assim que terminar com Saint Seiya. Eu não sei se eu vou ter o sucesso que eu tive agora, mas isso é algo que é muito importante para mim, porque eu tenho todo um novo universo que eu compartilho com meus leitores.

TRADUÇÃO:
Allan “Nicol”

Fontes:
Unification France e ScreenWeek

Créditos:
Patrick Le Naour e Gregory Hellot, Marlen Vazzoler e “Vincent, sans pseudo” pela foto publicada no fórum SSPedia de Shiori Teshirogi no evento.