AUTOR:
Michael Serra

 A SALA DE CONFINAMENTO

 

Na Sala de Confinamento da Megas Drepanon vemos o que parece ser um mesmo texto estampado no chão, teto e paredes laterais. Deste modo foi fácil completar a leitura da inscrição buscando a parte que faltava em uma das outras três paredes…

O resultado:

 

Θουκυδιδησ Αθηναιος ξυνεγπραψε τον πολεμον των Πελοποννησιων και Αθηναιων, ως επολεμησαν προς αλληλους, αρξαμενος ευθυς καθισταμενου και ελπισας μεγαν τε εσεσθαι και αξιολογωτατον των προγεγενημενων, τεκμαιρομενος οτι ακμαζοντεσ τε ησαν ες αυτον αμφοτεροι παρασκευν τη παση και το αλλο Ελληνικον ορων ξυνισταμενον προς εκατερους, το μεν ευθυσ, το δε και διανοουμενον. Κινησις γαρ αυτη μεγιστη δη τοις Ελλησιν εγενετο και μερει τινι των Βαρβαρων, ωσ δε ειπειν και επι πλειστον ανθρωπων. τα γαρ προ αυτων και τα ετι παλαιτερα σαφως μεν ευρειν δια χρονου πληθος αδυνατα ην, εκ δε τεκμηριων ων επι μακροτατον ακοπουντι μοι πιστευσαι ξυμβαινει ου μεγαλα νομιζο γενεσθαι ουτε κατα τους πολεμους ουτε ες τα αλλα.

 

Novamente peço desculpas pela falta de acentuação dos caracteres. A pronúncia latinizada seria esta:

 

Thucydides Athenaeus xynegrapse ton polemon ton

Peloponnesium kae Athenaeum, os epolemesan pros

allelus, arxamenos euthys kathistamenu kae elpisas

megan te esesthae kae axiologotaton ton progegenemenon

tecmaeromenos oti acmazontes te esan es auton amphoteroi

parasceve te rase kae to allo Ellenicum oron

xynistamenon pros ecaterus, to men euthysm to de kae

dianoumenon. Cinesis gar aute megiste de toes Ellesin

egeneto kae merei tini ton Barbaron, os de eipein kae epi

pleiston andropon. Ta gar pro auton kae ta eti palaetera

safos men eurein dia chronu plethos adynata en, ec de

tecmerion on epi macrotaton acopunti moe pisteusai

xym-baenei u megala nomizo genesthae ute cata tus

polemus ute es ta alla.

 

Oras, só com isso já dá para termos alguma noção do que se trata esse exerto. Vemos as palavras Peloponeso, Helênicos e também Bárbaros. Estas juntas à palavra “polemon” (guerra) nos revelam o sentido principal do texto: A Guerra do Peloponeso.

Contudo, o que nos permite elucidar totalmente o sentido deste trecho é justamente sua primeira palavra…

Tucídides foi um historiador grego considerado o criador da historiografia científica (ao lado de Heródoto, seu contemporâneo). Porém, somente tornou-se “historiador” para livrar-se de uma acusação de traição, pois era o Estratego (comandante de estratégia) da Trácia e não conseguiu evitar a queda de Anfipolis frente aos espartanos. Do discurso de sua defesa nasceu as bases de sua maior (e única) obra, A HISTÓRIA DA GUERRA DO PELOPONESO.

Tá. E o que isso tem a ver com a Megas Drepanon, os Titãs, Titanomaquia e a pataquada toda?

É o que me pergunto também, pois o mais intrigante é que as palavras que ilustram as paredes da Sala do Confinamento são as mesmas do primeiro capítulo da “História” de Tucídides (Ou seja, o texto é a transcrição integral de seu primeiro capítulo). Mário da Gama Cury as traduz assim:

 

“O ateniense Tucídides escreveu a história da guerra entre os peloponésios e os atenienses, começando desde os primeiros sinais, na expectativa de que ela seria grande e mais importante que todas as anteriores, pois via que ambas as partes estavam preparadas em todos os sentidos; além disso, observava os demais helenos aderindo a um lado ou ao outro, uns imediatamente, os restantes pensando em fazê-lo. Com efeito, tratava-se do maior movimento jamais realizado pelos helenos, estendendo-se também a alguns povos bárbaros – a bem dizer à maior parte da humanidade. Na verdade, quanto aos eventos anteriores e principalmente aos mais antigos, seria impossível obter informações claras devido ao lapso de tempo; todavia, da evidência que considero confiável recuando as minhas investigações o máximo possível, penso que eles não foram realmente grandes, seja quanto às guerras mesmas, seja quanto a outros aspectos”.

 

Aparentemente tudo isto não tem nada a ver com o contexto da guerra dos titãs contra Zeus ou Atena. Enfim, nada muito a ver com o contexto de Saint Seiya. Entretanto acho muito cedo para eliminar qualquer possibilidade ou teoria sobre a relação deste trecho com o enredo do Episódio G. Com a seqüência do mangá talvez poderemos discorrer mais sobre. Por enquanto fiquemos com o que já é certo, fato concreto. E o fato é que, está lá, é justamente esta passagem que ilustra o interior daquele calabouço. O que os autores pretendiam com isto?

A hipótese mais coerente, ao menos até agora: – Nada!

Isso mesmo, vamos analisar a idéia de que talvez isto seja um mero acaso, ou que mesmo não sendo um acaso, seja um texto ‘famoso’… uma espécie de homenagem ao autor, servindo somente como decoração, um tipo de papel de parede de luxo.

Bem plausível esta idéia, ainda mais se repararmos nestas cenas:

 

 

Repararam? Ahn, bem, não? Ok. Explico… Estas palavras em grego são exatamente as mesmas da primeira cena. Não digo que são somente idênticas, mas sim que estão ordenadas da mesma forma, ou seja, é a mesma seqüência, e por sua vez, é o mesmo texto do Tucídides.

Deste modo, fica difícil então argumentar que as “palavras mágicas” que selam a foice de Cronos tenham algo haver explicitamente com a Megas Drepanon. Enquanto o Episódio G não avançar mais não da para fazer qualquer outra teoria sobre isto.

 

 

 

Bem, continuando. Outra famosa passagem em grego do Episódio G (e não relacionada agora com a Sala de Confinamento (bônus para vocês) é o dito Arkhein (Αρκηειν), que sim significa especificamente ‘dominar’. O sentido mais amplo e correto é o de “impor autoridade, exercer autoridade, usar imposição como forma de controle”. Em outras palavras: arcano.