AUTOR / TRADUÇÃO:
Allan “Nicol”

Fonte:
Revista Figure Oh (ou Figure Ou, como preferirem) n° 109 de março de 2007.

Entrevista: Shingo Araki para a Figure Oh

Esta é a última entrevistada dada por Shingo Araki, o lendário talento por trás da animação de Saint Seiya que determinou o estilo do traço desde o primeiro episódio da série. A entrevista foi publicada em março de 2007. Naquele ano, chegava ao fim a temporada de 6 OVAs do Meikai-hen Kôshô (A Saga de Hades, Inferno/Mundo das Trevas – parte final). Muitos problemas marcaram esta série e a próxima que se seguiu, Elysion-hen, e após isso, com a conclusão de toda a Saga de Hades em 2008, rumores fortes diziam que Araki nunca mais voltaria a trabalhar com Saint Seiya, tanto é que o novo anime, “Saint Seiya The Lost Canvas Meiô Shinwa”, não contou com a participação do mestre ou de qualquer membro de sua equipe do estúdio Araki Pro.

O que chama a atenção nesta entrevista, é justamente o fato de Araki já dar sinais de que só desejava mesmo ir até o fim da Saga de Hades. Além disso, mais curiosidades sobre os bastidores da série animada são contadas. Confiram!

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Figure 109 (março de 2007)
Entrevista com a Equipe Técnica – Shingo Araki

Shingo Araki
Nascido em 01 de janeiro de 1939 (Capricónio). Natural do distrito de Aichi. Entrou na Mushi Production em 1964, e estreou como animador com “Jungle Taitei” (1965). Fundou a Araki Production em 1974, e trabalhou juntamente com Michi Himeno desde “UFO Robo Grendaizer” (1975). Alguns de seus trabalhos mais importantes são “Babel Ni Sei” (1973), “Versailles no Bara” (1980), “Fûma no Kojirô” (1989), e “Ring ni Kakero 1” (2004). Trabalhou como desenhista de personagens e supervisor de animação de quase toda a série “Saint Seiya”.

Reforçamos em especial a atuação de Seiya e os outros, para que não perdessem para os 12 Cavaleiros de Ouro.

– Por favor, conte-nos como se envolveu com Saint Seiya.

Eu recebi a história do senhor (Osamu) Yoshioka, diretor executivo da Toei Animation. Eu havia trabalhado junto com o senhor Yoshioka em “Cutey Honey” (1973), “Majokko Meg-chan” (1974) e outros. Então ele me disse “Araki, esse trabalho não seria ideal para você?”. Depois disso, eu dei uma olhada na história original do mestre Kurumada que estava saindo em mangá naquela época.

– Qual foi sua primeira impressão quando viu o mangá original?

De alguma forma, tinha a aparência das animações com as quais havia trabalhado até então. Apesar de ter sido um primeiro encontro, senti como se os personagens fossem meus mesmo, crescia uma grande familiaridade com cada personagem, como se fossem meus melhores amigos também. “Sendo assim, vou produzir com o know-how que tenho nesse momento”, foi o que pensei. Como dizer, me parecia fácil que seria um sucesso, “este personagem deve ser desenvolvido dessa maneira”, os esquemas fluíam de uma vez. Porém, o verdadeiro trabalho não foi fácil de realizar (risos).

– Como lidou com o desenho das Armaduras Sagradas (Cloth) na versão animada?

Aquela foi uma época difícil. Eu realmente sofri muito por causa das Armaduras (risos). Na verdade, as primeiras Armaduras (Cloth) a serem desenhadas como uma amostra eram a versão do mangá original. Porém, a Bandai venderia posteriormente os brinquedos, então a forma das Armaduras foi alterada para que fossem materializadas facilmente. Depois disso, foi mais difícil. Apesar das Armaduras serem um importante elemento que reflete as caracteristicas dos protagonistas, eu não gostava muito dos desenhos tipo “máquina” (risinho). Então, depois de muitas trocas de idéias com a Bandai, conseguimos enfatizar uma forma adequada às crianças. E finalmente, concluímos com o desenvolvimento das respectivas imagens dos animais (n.t.: Araki se refere às imagens formadas pelas Armaduras quando não estão nos corpos dos Cavaleiros), sem romper com a imagem do mangá original.

– Qual a Armadura Sagrada [Cloth] deu mais problemas?

Pégaso. Em primeiro lugar o elmo (da antiga Armadura de Bronze) que seria usado, eu queria fazer um formato que ficasse bom de ser visto de qualquer ângulo. De qualquer forma, era o protagonista. Além do mais, eu tinha que planejar para que os movimentos da animação fossem os mais fáceis possíveis, por isso tentei desenhar para que se tornasse fácil.

– Surgiu um grande número de personagens originais para o anime, há algum personagem que o impressionou em especial?

Lembro claramente do Cavaleiro de Cristal. Se não estou enganado, eles existiram porque o anime tinha ultrapassado o mangá original, existiam também personagens criados com a colaboração da Bandai.

– Os Guerreiros Deuses (God Warriors) talvez. Então, qual o episódio que te deixou mais impressionado?

O primeiro filme. Como era interessante produzir “Seiya”, tive várias e várias reuniões para conversar com o supervisor Kôzô Morishita. E é claro, também o primeiro episódio da série de TV. Quando vi a primeira prévia, eu intui “isso vai ser muito interessante”. Ao mesmo tempo, eu dizia para mim mesmo: “você quer fazer, sabe que consegue”. Mas, essa auto-confiança era conseqüência da convicção, pois as pessoas ao meu redor se esforçavam muito. Por exemplo, uma das muitas cenas de ação, era uma tradução que deveria se mover conforme os meus desenhos. Os movimentos não são elaborados por pessoas individualmente, é difícil mostrar de forma adequada os movimentos de outras pessoas. Por isso, nesse sentido, apesar de eu pensar “não tenho como me desculpar”, no final das contas eu tinha de correr rapidamente no meu próprio ritmo (riso forçado).

– Ao longo do seu caminho, o senhor frequentemente se ocupou de muitos layouts ousados.

Aquilo foi na época da fundação da Mushi Production, eu era encarregado, essencialmente, dos movimentos da animação. Os personagens de um anime, no entanto, não ganham vida apenas tendo desenhos belos e adoráveis. Então foi por isso (risos). O produtor (Shigeyasu) Yamauchi também concordava com isso. Na verdade, quando se olha novamente um trabalho no qual eu estive envolvido, a modulação não era tão aplicada ao movimento, porque eu ficava tentando desenhar belas imagens. Porém, um trabalho como “Seiya” não consiste apenas de belos desenhos. Assim, desenhei com uma sensação própria de muita naturalidade. É um anime em que posso improvisar um pouco nas técnicas. Continuo expressando com algum gás que me resta, mantendo o realismo enquanto desenho.

– E, era impressionante a aparência de correr com os braços estendidos com uma postura inclinada para frente.

Eu fazia aquilo para produzir a sensação de velocidade. Na verdade a primeira vez que isso foi feito, foi no antigo anime “Eight Man” (1963). A parte de cima do corpo realmente não se move, o que significa que só as pernas é que se movimentavam. Mesmo achando que a técnica diminui o tempo de trabalho do animador, essa forma de correr melhora efetivamente, sempre. A aparência de mover só as pernas dava uma sensação de velocidade. Este movimento foi conectado a “Seiya” por mim.

– Qual o seu personagem favorito?

Eu gosto muito dos 5 protagonistas. Dentre eles, o meu favorito é o Seiya. É muito fácil desenhá-lo, já que dá para desenhar várias expressões. Eu sinto como se o Seiya fosse o meu “filhinho mimado” (risos).

– O que você pensa sobre os mais de 20 anos de “Seiya”?

Nossa, estou ligado a ele por um longo tempo mesmo (risos). Como tenho sido um dos responsáveis pelo fluxo da obra chamada “Seiya”, apenas um episódio foi feito por outro grupo [ N.t.: no Meikai-hen Kôshô, Araki se encarregou dos layouts de 5 dos 6 episódios dessa fase], eu estava muito ansioso por esta parte. O que eu mais queria era, com minhas próprias mãos, retocar todos os quadros [cuts]. Penso que não pude fazer isso no atual trabalho.

– Então, Sr. Araki, por que “Seiya” é algo especial?

Acima de tudo, pela grande amizade, não acha? Seiya é como uma compilação dos protagonistas de animes nos quais participei até agora, como “Gyojin no Hoshi” (1968) ou “Ashita no Joe” (1970). Por isso, ele me traz muitas emoções. Porém, não sei o quanto eu poderei continuar nesta função. Eu gostaria de não ficar senil pelo menos até a conclusão de “Seiya” (risos).

– Então, por favor, conte-nos sobre a mais nova produção “Hades – Inferno, Parte Final” (Meio Hades Meikai-hen Kôshô).

Justamente nesse momento, concluímos a última parte do trabalho. Ultimamente essa série veio exigindo muito esforço. Todos os 12 Cavaleiros aparecem juntos, por isso para que Seiya e os outros não fossem consumidos por eles, nos empenhamos muito para injetar força na performance deles. A intenção era desenhar a ação o mais detalhada possível.

– Então, para terminar, poderia dar uma mensagem aos fãs de “Saint Seiya” de todo o país?

Temos sempre em mente as pessoas que veem a animação, estamos sempre procurando corresponder ao apoio que nos dão. De agora em diante, por favor apoiem bem a Seiya e seus amigos também.

(Entrevista realizada por telefone em 01 de fevereiro de 2007).