Matéria produzida por:
Allan “Nicol”
ABEL x APOLO
Muitos fãs até hoje ficaram confusos, porque em países como a Itália, Abel foi chamado de Apolo. Por isso, muitos afirmam que havia um erro de dublagem ou de tradução e que na verdade o nome de Abel seria Apolo, mas isso é um engano e prova disso é todo o material (art books, revistas e sites japoneses) que mostra a escrita do nome deste personagem, sendo sempre escrito da seguinte forma: アベル(ABERU). A partir daí, procuraremos diferenciar os dois deuses e mostrar que essa distinção também se reflete no universo de Saint Seiya.
O MITO DE APOLO
Abel e Apolo são deuses diferentes, que não existiram juntos na mitologia grega. Bom, para entendermos melhor, vou relatar, inicialmente, o mito original de Apolo e toda sua relação com o Sol que existe na mitologia grega existente, depois falarei sobre Abel e seu encaixe com o mito de Apolo no universo Saint Seiya.
Bem, de acordo com a mitologia grega original, Apolo, assim como Artêmis, é filho de Zeus e Latona (filha de Uranus, o Céu), os irmãos gêmeos nasceram na ilha flutuante de Delos, criada por Poseidon para abrigar Latona que fugia da serpente Piton, enviada pela ciumenta Hera, a rainha dos deuses. Após o nascimento de Apolo e Artêmis, a ilha se tornou estável e imóvel. Apolo foi criado pelas Musas e por isso foi considerado como o deus da música, da poesia, eloqüência, augúrias, da arte, da medicina e da profecia (daí vem o famoso Oráculo de Delfos). Ainda jovem, ele vingou sua mãe eliminando a Piton. Junto com a ninfa Carônis, Apolo teve um filho, chamado Esculápio, que herdou de seu pai o dom da medicina. Entretanto, por usar os dons da medicina para reviver Hipólito sem a permissão dos deuses, Zeus o fulminou com seu raio. Furioso, Apolo atacou com suas flechas os Ciclopes, que haviam forjado os raios de Zeus. Por essa razão, Zeus, expulsou Apolo do Olimpo.
Apolo foi viver na Terra, entre os humanos, buscando abrigo junto a Admeto, rei da Tessália, e ficou cuidando de seus rebanhos. Durante seu exílio, Apolo cantava e tocava a lira dada por Hermes, encantando todos os seres vivos que o cercavam. Pã, com sua flauta, chegou a rivalizar com Apolo. O rei Midas, que era amigo de Pã, afirmou que Pã era muito mais habilidoso. Por causa de sua escolha, Apolo lhe fez crescer orelhas de burro. Outro flautista que rivalizou com Apolo foi Mársias, só que o destino dele foi bem pior: Apolo o esfolou vivo.
Um dia, Hermes lhe roubou o rebanho, deixando o rei Admeto decepcionado com ele. Apolo então partiu e chegou a ajudar, junto com Poseidon, o rei Laomedoste (pai de Príamo) a construir as muralhas de Tróia, porém o rei não os recompensou. Assim, Apolo mostrou mais uma vez sua fúria e lançou uma terrível peste sobre o reino de Laomedoste, causando grandes estragos. Apolo também se relacionou com Dafne e teve vários filhos com Climene, entre eles o famoso Faetonte (que mais tarde morreria ao tentar conduzir o carro do Sol de Apolo queimando junto grande parte da Terra). Apolo caminhou ainda muito tempo pela Terra até que Zeus o perdoasse, dando-lhe novamente um lugar no Olimpo.
Apolo ficou encarregado de guiar pelo mundo a carruagem que puxava o Sol, a partir de então Apolo também ficou conhecido como “Febo” (em grego, Phoibos, que significa “luz e vida”). Portanto, Febo Apolo (em grego “Phoibos Apollon”) assumia agora o posto de deus Sol. Originalmente, Helius era filho de Uranus e ao ser morto, afogado pelos Titãs, foi convertido pelos deuses no Sol, apesar do status de “deus”, Helius não passava de um sub-deus que servia aos Olimpianos, no caso Febo Apolo. Por isso, alguns textos da literatura grega consideravam Helius e Febo Apolo a mesma pessoa, assim como Artemis e Selene (a Lua) também são consideradas a mesma entidade.
ABEL: CRIANDO-SE UM MITO
Quanto a Abel, ele não existe em nenhuma mitologia. Seu nome pode ser uma referência a história bíblica de Abel, morto por seu irmão Caim, que tinha ciúmes da preferência que o irmão recebia de Deus. Ainda assim, muitos preferem considerar que Abel vem da mitologia babilônica, pois vários de seus deuses se intitulam como “Bel” (que significa “Senhor”) sendo assim os líderes de seus panteões locais. O termo se refere a Marduk na Babilônia, Assur na Assiria, e Ninurta no épico Anzu. A revista Herói chegou a difundir esse conceito detrupado de que Abel era um deus babilônico que controlava o sol e tinha o poder de ler a mente das pessoas.
Porém, na cabeça de Kurumada e da equipe de produção do filme, como Abel pode ter assumido o lugar de deus do Sol? Quem o ocupava antes?
Como relatado na mitologia, Apolo não nasceu como o Deus Sol, esse era um título (“Febo”) adquirido e ainda assim, Zeus havia expulso Apolo para que este vivesse na Terra, entre os humanos. Segundo dados oficiais referentes a explanações do filme “Shinkû no Shônen Densetsu” (A Lenda do Jovem Escarlate)., Abel foi desenvolvido com a colaboração efetiva do próprio Masami Kurumada.
Tradução própria de trechos do panfleto do filme, distribuído gratuitamente na grande estreia da Toei Manga Matsuri:
02/16 – Kurumada Production
Para o terceiro filme de Seiya, recorreu-se novamente ao original do mestre Masami Kurumada, mas ideias frescas não paravam de sair da cabeça de Kurumada, uma a uma, é impressionante…
(…)
03/25 – Araki Production
Conforme os desenhos originais do mestre Kurumada, o sr. Shingo Araki, desenhista dos personagens [character designer], completou os desenhos de Abel, o lendário Deus Sol, irmão mais velho de Atena.
04/11 – Kurumada Production
Comemoração! O story-board está completo!! Mestre Kurumada checa sem esboçar reação… Então, um simples sorriso mostra sua satisfação.
As peculiaridades do mito de Apolo podem ter servido de gancho para Kurumada e a equipe de produção pudessem desenvolver Abel e incluí-lo na mitologia grega de Saint Seiya, estabelecendo que na era mitológica (provavelmente na época em que Apolo estava exilado na Terra) Abel, um dos filhos de Zeus, auto-proclamou-se como Deus Sol (“Febo Abel”) e tentou dominar a Terra. A partir daí, podemos pressupor que, nesse momento, Apolo teria se rebelado contra Abel, já que vivia na Terra e orgulhoso do jeito que era, não concordou em ser dominado como os humanos, afinal, mesmo não estando no Olimpo, Apolo ainda era um deus poderoso. Zeus, que também não concordava com a ambição de Abel, apoiou Apolo e juntos eliminaram Abel deixando-o no esquecimento da história. Isso sem mencionar que o filme nos conta que não apenas Apolo e Zeus se enfureceram com Abel, outros deuses também.
Continuando, poderíamos pressupor que, a partir da derrocada de Abel, Zeus teria perdoado Apolo e lhe concedido o posto de Deus Sol. Provavelmente o Abel da era mitológica tinha muito mais poder do que o Abel mostrado no filme, pois precisou da ação de deuses poderos eliminá-lo. Durante o filme inteiro, Abel se diz enviado dos deuses, revivido por eles, talvez os outros 12 deuses do Olimpo, e não Zeus, reviveram Abel. Talvez os deuses do Olimpo não quisessem sujar suas próprias mãos naquele momento e tenham prometido a Abel um lugar no Olimpo se ele eliminasse os humanos.
Faz sentido, pois ele é um deus renegado! Os deuses que enviaram Abel foram, como ele mesmos diz: Abel Poseidom e Eris.
Os conceitos de ambos os deuses sempre estiveram muito confusos no universo do Santo Seiya.
Ficou muito mais fácil identificar onde começa um mito e termina o outro.
Ótima matéria, como sempre!
Obrigado!
Não é mais fácil dizer que os japas confundiram os nomes? XD
Como mencionado, o próprio filme menciona a existẽncia de Apolo.