AUTOR:
Michael Serra
PÁGINAS RELACIONADAS:
Reencarnação e Predestinação.

OS SENTIDOS
e a Divindade

 Esta é uma matéria de cunho interpretativo, ainda que muito, especificamente sobre os Sentidos, possa ser diretamente ligado a Saint Seiya. Busca, através de mitos e religiões do mundo inteiro, uma maior compreensão de certos conceitos obtusos na obra.

 

AS ORIGENS

“No princípio havia o” cosmos. Nele tudo age, nele tudo é definido, se forma e tem forma. Compreende o todo e se abstém do nada. Dessa essência provém toda a matéria, sua aparência.

Sim, possui vários nomes, por quê não? A gama do universo justifica a diversidade: Tao (chinês), Kunitokotachi (japonês), Ginnungagap (nórdico), Atma (hindu), Cosmos (Macrocosmos, grego)… Etc. Costumo simplificá-los em três conceitos da cabala: 

Ain: Supremo. 

Ain Soph: Supremo Conhecimento. 

Ain Soph Aur: Alma do Supremo Conhecimento. 


Aum (Om), símbolo hindu do Supremo. Como o Alfa e o Ômega cristão, também é formado da primeira e última letras do alfabeto sânscrito.

Estes três termos tentam explicar algo fora da concepção humana, algo extra-divino. Esta trindade representa, em termos bem pobres, O Deus, As Forças, Os Poderes ABSOLUTOS. A Essência do universo, de todo o Macrocosmo. Seu nível mais próximo ao nosso entendimento é a Alma do Supremo Conhecimento, algo que só podemos vislumbrar, mas que contudo podemos perceber e sentir, nos revelando que algo maior existe, mesmo sem nunca compreendermos. Essa faceta mais próxima da humanidade é chamada pelos cristãos de  Espírito Santo. Seguindo essa linha, seria fácil apontar o Supremo Conhecimento como o filho  de Deus, o Messias, e que o Pai, o Alfa e o Ômega

é o ser Supremo.

De fato isto pode ser dito, contudo, o mesmo pode ser aplicado as tríades do Caos / Éon / Cronos (o primitivo Χρονος, diferente do titã Κρονος), dos gregos ou a Atma / Brahman / Brahma dos hindus, ou ainda Aton / Amon / , dos egípcios, por exemplo. Enfim, inúmeras outras trindades das religiões antigas. São meramente nomes, não alterando em nada o principal fato: Serem as coisas mais próximas do Supremo.

Tudo isso comparado ao conceito cristão de Deus? Questão controversa, contudo vital a todo o desenvolvimento da história (afinal é fácil quando tratam a religião dos outros como mitologia, mas a sua própria não). Mas enfim… Em que ponto da existência, então, Surgiu Deus? Nesta concepção da palavra ele sempre existiu. Tudo existe em Deus, a força una do universo, não importando a maneira como se denomine tal essência. O ser absoluto existe, e fazemos parte dele, e dele compartilhamos seu poder.

Aqui, em sua forma pura e indomada, o chamarei de Caos. Desta desordem é que nasce a vontade intrínseca de todos os corpos presentes no universo ao movimento, à revolução, ao processo de mudança. A transformação do ‘não ser’ em ‘ser’, e do mesmo no contrário. A força motriz que leva o começo ao fim, e este ao ponto de partida novamente.

 

OS SENTIDOS

 

Inerente a isso, a princípio, o ser humano nasceu e cresceu rodeado pelas trevas da ignorância. Contudo armas possuía para vencê-la, sua própria essência interna herdada do cosmo absoluto: A Força da Vida, chamada Chiah pela cabala, Prakiti pelos hindus e entendida pelos antigos gregos como Microcosmo. Em seu momento mais básico, de acordo novamente com os hebreus, é entendida em três formas ou fases:

Neshamah (espírito, o hindu Púman, o grego Psique).

Ruach (alma, o hindu Pradhána ou Atman, o gregoAnima).

Nephesh (princípio, o hindu Mahat, o grego Logos, o cristão Verbo).

Estes foram os elementos básicos da evolução humana, que propiciou os elementos secundários, os Sentidos da Natureza (também chamados de Vedanã dos Skandhas, no hindu): 

Visão, Audição, Olfato, Tato e Paladar. Cada um desses sentidos proporcionou à humanidade uma Percepção própria do mundo (Saññã dos Skandhas, Skandhas é a relação agregada dos sentidos e percepções com a extra-consciência e o mundo exterior, algo que comentaremos mais à frente). O Paladar proporcionou a Fala (Vac), o Tato a Locomoção (Sparsa), o Olfato a Respiração (Prana), a Audição o Equilíbrio (Shrotra), e a Visão a Perspectiva (Caksus). 

Pouco. De nada isso serviria à propósitos grandiosos não fosse a evolução da espécie fomentada pelo caos natural. Entre parênteses estão os termos hindus.

O Sexto Sentido (Manas), mais que o próprio Instinto de sobrevivência, elevava a mente humana na maior revolução que esta espécie verdadeiramente já viu. Intuição, Sincronia, Sintonia, Sinestesia, Empatia, Telepatia, Psicocinesia, Precognição, Levitação, Clarividência e outras manipulações mentais… Tudo isso faceta da mesma capacidade humana: Pensar (Consciente e Inconsciente).

Com esta ferramenta o homem, parte da natureza, agora também seria o seu deus, criador e modificador da ordem estabelecida, conhecedor de suas artes e segredos. Sim o homem se tornaria, e se tornou de fato, deus de si mesmo e do mundo. Mas calma, adiantei-me muito no curso do tempo. Ainda que pleno em suas faculdades materiais e mentais não estava apto a compreender as grandes estruturas do universo. Não tinha total conhecimento, agindo por agir, vivendo por viver, até morrer.

 

O SÉTIMO SENTIDO

 

Somente quando a junção MicrocosmoMacrocosmo despertou no âmago do homem é que surgiu o Sétimo Sentido. Pela cabala é a união do Chiah (cosmo interior, como já dito) com o Jechidah (cosmo exterior, mas não o Cosmo pleno). E somente é atingida quando a Ycchidah (essência individual, mas não individualista) se dissocia do egoísmo material (Asmita hindu), começando a adentrar os caminhos do universo. 

No conceito de Saint Seiya esse caminho é trilhado inicialmente percorrendo os pontos estelares em seu próprio corpo – ao menos, com os Santos de Atena é dessa maneira, traçando os pontos estelares de sua constelação correspondente. Uma forma variante, também encontrada na obra e que explica melhor essa transição, é o conceito hindu de Chakras

Basicamente a energia flui pelo corpo humano nos canais chamados Nadis. Ao longo do caminho, a espinha (Shushumna), existem 7 pontos, ditos Chakras ou círculos de concentração em espiral de energia, como poças ou pequenas lagoas de um rio, por exemplo. São eles:

Muladhara, na base da espinha.

Swadhisthana, na genitália.

Manipura, no estômago.

Anahata, no peito.

Vishuddha, na garganta.

Ajna, na testa.

Sahasrara, no topo da cabeça.

Se não houvessem os Chakras, o

fluxo de energia fluiria livremente. Ou seja, atingir o Sétimo Sentido muito se assemelha a abrir seus pontos cósmicos para que sua energia interna flua solta.

Cada um desses círculos ou poços de energia age por um tipo de bloqueio “emocional”, por assim dizer… 

O primeiro Chakra, Muladhara, localizado no fim da espinha, é conhecido também como o Chakra da Terra, e simboliza a Sobrevivência, sendo bloqueado pelo Medo. Abrir esse caminho é libertar-se do medo, confrontando-o com naturalidade.

O segundo Chakra, Swadhisthana, localizado nos órgãos de reprodução, é conhecido também como o Chakra da Água, e simboliza o Prazer, sendo bloqueado pela Culpa. Abrir esse caminho é libertar-se da culpa, aceitando a realidade, perdoando-se.

O terceiro Chakra, Manipura, localizado no estômago, é conhecido também como o Chakra do Fogo, e simboliza a Força de Vontade, sendo bloqueado pela Vergonha. Abrir esse caminho é libertar-se de suas maiores decepções, jamais as negando e as deixando que impeça de agir. 

O quarto Chakra, Anahata, localizado no peito (coração e pulmões), é conhecido também como o Chakra do Ar, e simboliza o Amor, sendo bloqueado pelo Pesar. Abrir esse caminho é libertar-se de suas perdas sofridas, deixando suas dores irem embora.  

O quinto Chakra, Vishuddha, localizado na garganta, é conhecido também como o Chakra do Som, e simboliza a Verdade, sendo bloqueado por Mentiras. Abrir esse caminho é libertar-se de suas inseguranças, aceitando o que é de fato. 

O sexto Chakra, Ajna, localizado no centro da testa, é conhecido também como o Chakra da Luz, e simboliza o Esclarecimento, sendo bloqueado pela Ilusão. Abrir esse caminho é libertar-se da ilusão da separação e do egoísmo, ou seja, de que na verdade tudo é uma coisa só, inclusive você mesmo é uma só unidade com o universo. Tudo está ligado. – É extremamente ligado as lendas do “Terceiro Olho”, ou o “Olho que Vê a Verdade”.

O sétimo Chakra, Sahasrara, localizado no topo da cabeça, é conhecido também como o Chakra do Pensamento, e simboliza o próprio Cosmos, sendo bloqueado pela Materialidade. Abrir esse caminho é libertar-se do mundo, abrindo as portas para a própria energia do universo, do macrocosmo, fluindo para você. 

 

 

Ou seja, é dominar o Sétimo Sentido. Em termos budistas esse sentido pode ser chamado de Klesha (escola Yogacara) ou Namarupa (teoria do corpo-mente). Ao pé da letra ambos os nomes significam algo como “empecilhos, erros, desvios, venenos, corrupções”, então as nomenclaturas devem ser entendidas como “A Superação dos Empecilhos” Um termo cristão equivalente é Transubstanciação.

*p.s. (qualquer semelhança com o Episódio 19 da segunda temporada de Avatar não é mera coincidência).

OS ASPECTOS DO SÉTIMO SENTIDO

Atingido o Sétimo Sentido, libertos os fluxos corporais, surgem as manifestações energéticas, que por tradições mundo à fora, são entendidas de inúmeras maneiras, mas em Saint Seiya é bem conhecida como Cosmo, ou melhor, o brilho cintilante do Cosmo em volta de cada guerreiro. Aqui falamos então, além de Cosmo, de:

Shakti e Purusha dos hindus.

Ki, dos japoneses.

Qi ou Chi, dos chineses.

Lung, dos tibetanos. 

Mana, da Oceania.

Aura, dos cristãos.

Éter, dos gregos.

Numina, dos romanos.

O Simbolo do Chakra Muladhara é estampado na lança de Krishna, justamente dito ser portador do Kundalini.

Ka, dos egípcios.

Seid, dos nórdicos.

Awen, dos célticos. 

Dentre outros. Simplificando: Energia. Estranhou a falta de Kundalini? Kundalini é um dos sete tipos de energia que compõem o Shakti e o Purusha, cada um relacionado diretamente a abertura de um Chakra: Kundalini (de Muladhara), Kriya (de Swadhisthana), Itcha (de Manipura), Para (de Anahata), Mantrika (de Vishuddha), Jnana (de Ajna) e Fohat (de Sahasrara). 

Curiosamente, a energia Shakti é entendida como feminina, enquanto que a masculina é chamada Purusha (que literalmente significa: “homem cósmico”). 

Um ponto intrigante para se pensar na concepção de Saint Seiya é se haveria níveis distintos de poder do Sétimo Sentido devido a essa concepção repartilhada inspirada nos Chakras, sendo um tipo de energia superior a outra, etc…

Hoje em dia, pela ciência, essa idéia de energia espiritual ou esotérica é até bem compreendida e aceita por determinados ramos. É o caso do estudo das fotografias Kirlianas, ou Bioeletrografia (confira fotos e mais detalhes sobre o assunto aqui: NEP (Núcleo de Estudos e Pesquisa Landell de Moura – o inventor do processo), que levaria a compreensão do Perianto, ou Perispírito.

*Fotografia bioeletrônica da “aura” da ponta de um dedo.

O OITAVO SENTIDO

 

O homem assim começava a tomar conhecimento da plenitude do universo. Todavia, ainda assim morria. Morrer antes de atingir o Nirvana significa nascer novamente, reencarnando de acordo com seu Carma. Logo todo processo se repetia, sem que o indivíduo atinasse que já percorrera esse caminho antes. 

Porém, um dia, a humanidade despertou mais um sentido (pois sempre o teve) que viria a ajudá-la nessa jornada. O Oitavo Sentido (do sânscrito ālayavijñāna, do chinês/japonês 阿賴耶識, Arayashiki). Também conhecida como Oitava Consciência (hindu: Aṣṭavijñāna).  

Ele nada mais é que a “Consciência Acumulada“, cujo o processo de vida-pós-vida não apaga. Ele também é o ápice dos Skandhas, já citados anteriormente. 

São 5 os Skandhas, ou “conhecimentos agregados”:

 

Os conhecimentos adquiridos da forma e da matéria (Rupa).

Os conhecimentos adquiridos dos sentidos e sensações (Vedana). 

Os conhecimentos adquiridos das percepções e concepções (Saññã).

Os conhecimentos adquiridos das idéias e mentalizações (Samskara). 

Os conhecimentos adquiridos da Consciência Acumulada (Alaya).

 

O primeiro nada mais é que o mundo material, os quatro (ou cinco) elementos e suas variações que culminam no corpo físico. 

O segundo já foi explicado. São os Cinco Sentidos. 

O terceiro é quase o anterior, é seu discernimento, seu entendimento. Uma coisa é sentir, outra é entender o que sente, todavia, não envolve abstrações.

O quarto é ligado ao Sexto e Sétimo Sentidos, é o Mundo das Idéias de Platão, também já explicado.

Por fim, o Oitavo Sentido. Ele armazena as impressões recebidas de cada sentido anterior, as guardando em forma de potencial energia para ações vindouras (como outra reencarnação). Por isso muitas vezes é entendida como a Semente da Consciência, ou Consciência Base (Mulavijñāna).

Isso é importante: De acordo com a tradição budista, isso não impede a morte. Sim, os dotados com esse dom ainda morrem, contudo, a morte deixa de fazer sentido para eles, pois futuramente “acordam” e de tudo lembram. Em Saint Seiya o que ocorre com a “morte” de Shaka e Atena, que rumam ao Reino de Hades, é uma metáfora que alude ao Oitavo Sentido – pois de fato eles não morreram, somente ludibriaram o deus do submundo. 

É dito que quem lá cair encontra a morte e passa a seguir as leis dos mortos (Mu, Aiolia, Milo, a principio). Despertar o Oitavo Sentido no Reino dos Mortos não quer dizer que torna o dotado imortal, mas que somente ali não seguiria suas leis (e aqueles dourados seguiram, até despertarem no Muro das Lamentações). Enfim, para quem o possui, não se morre por ali adentrar simplesmente, talvez justamente por um conhecimento anterior adquirido.

  

O NONO SENTIDO

 

O Nono Sentido, o Sentido dos Deuses, a “Vontade Divina“. Unido de tal modo ao universo e suas forças, nada o prende, nada o limita. Sua vontade é a Lei (Ou ao menos, quase isso!). O que fazem esses homens, ou melhor, seres, serem proclamados deuses é o fato de que são adorados, e nem tanto por eles serem divinos. A adoração já existia antes mesmo deles surgirem na face da Terra.

Um deus está livre das correntes do Carma e da Reencarnação, se utilizando disso por brincadeira quando quiser. Contudo, se está unido ao cosmos do universo, está preso à alguma coisa, deste modo. Um deus, nesta concepção, pode tudo, até manobrar as leis cósmicas, mas jamais sobrepujá-las.

 

 

Explicarei melhor esse tema cotando um trecho de outra matéria minha: “Reencarnação e Predestinação”:

Antes de tentar solucionar esta questão, pensemos primeiro no que distingue um homem de um deus. Em Saint Seiya temos duas vertentes básicas sobre o assunto. A Herança Cósmica e a Evolução Cósmica – e ao meu ver, não precisam ser, necessariamente, opostas, podem sim se harmonizar). 

A primeira é clássica (principalmente exaltada no Episódio G), fortemente corroborada com a mitologia. Os deuses primordiais possuem origem misteriosa e caótica, mas passando aos seus descendentes, geração por geração, a característica vital que os distingue dos seres humanos – uma espécie de sangue azul, nobre, o Ikhor. Como sempre é dito nas entrelinhas de Saint Seiya, os mitos refletem possíveis verdades, ainda que deturpadas pelos anos e pelos ouvidos de cada um – por isso nos parecendo tão nebulosos e intangíveis. 

A segunda é mais ousada (principalmente exposta no Hipermito), mas todavia, ainda enraizada em penumbras mitológicas. É a teoria de que, inicialmente, não havia distinção entre homens e deuses, mas que a ‘evolução’ tomou caminhos distintos em ambos. 

 

“Sabe-se que o homem dispõe de cinco sentidos: A visão, a audição, o paladar, o olfato e o tato. Também se reconhece a existência de um Sexto Sentido, o instinto que as pessoas extra lúcidas possuem de maneira extremamente desenvolvidas. Mas também existe o Sétimo Sentido… Você sabe qual é? Segundo a mitologia, na época em que os deuses caminhavam entre os homens, todos possuíam o Sétimo Sentido. Mas a raça humana se desenvolveu rapidamente e perdeu esse precioso sentido. Não completamente… pois o Sétimo Sentido jaz hibernante no coração de todos os homens”.

 

Volume Nacional 13, página 6.

 

Nesta passagem ainda permanece a dubialidade da questão. Todo modo, vemos que a humanidade ‘regrediu’ ou ‘evoluiu em outro caminho’, mas ainda assim, extra-sentidos habitam no coração de cada um. É possível despertá-los, é possível evoluir – ao Oitavo Sentido (Arayashiki), ao Nono Sentido (Vontade Divina).

Esta Vontade Divina, assim dita no Hipermito, equivale-se à Dynamis (do grego – potência, fazer mover, acontecer, dinâmica) do Episódio G, a força motora, a capacidade de moção, de movimento, de poder, ou melhor, de potência dos homens. Ou seja, neste ponto as duas visões são justapostas no sentido de que, um deus é pleno de si, de sua divindade, não somente potência – é ação e concretude. Ao passo que o homem não, mal compreendendo-se enquanto homem e menos ainda identificado com a divindade presente dentro de si, o homem é, no máximo potência, dinâmico.

A capacidade de criação dos deuses é derivada da junção de seu microcosmo às leis do macrocosmo, do universo, por isso dissemos que sua vontade (Vontade Divina) é absoluta. A capacidade humana de superação e da possibilidade do conhecimento interior, despertando a divindade dentro de si é potencial. Somente poucos a desenvolvem

Agora, como disse anteriormente, estas duas visões não se excluem. Pois afinal, sangue também é matéria, e toda matéria veio das estrelas, do cosmo… A herança sangüínea não parece fugir ao caso e nem impedir que haja evolução conforme apresentamos – principalmente realçada agora pelo contexto de potencialidade ‘evolutiva’… E lembrando de todos os momentos onde o simples contato com o sangue de Atena executou milagres então.

 Visto agora que, talvez, deuses e humanos não sejam tão diferentes – ainda que até tenham origens separadas – pois, se assim não fosse, se não fosse possível evoluir, como humanos venceriam deuses? Não é este o maior fato que os autores da série tentam nos apresentar? Superação. Sim… é possível, eis a apoteose mítica, tal como a da lenda de Hércules e de Tróia -, retomemos nossa questão. Como é a reencarnação para os meros humanos? De certo modo não pode ser tão distinta da dos deuses. Parece que a noção básica que os difere é de fato o Nono Sentido e a Dynamis, ou seja, a vontade absoluta e o poder potencial de moção em relação a alma. Mas será mesmo assim? Não haveria algo a mais pairando sobre eles? Até sobre os deuses? O Destino?!

 

Se não o Destino, a Divindade Suprema abordada no início desse artigo. Em vários momentos da obra um Deus, ou Divindade Superior, parece ser aludida pela simples alcunha de “kami”. Os mais comportados preferem crer que a referência é ao próprio Zeus. Ainda assim, a questão ai permanece. 

Cabe por fim dizer, que todas essas evoluções dos Sentidos levam o homem justamente a Deus. É o que prega TODAS as religiões (religião, do verbo religar, ou seja, religar a Deus), e em se tratando de sentidos, especialmente a doutrina budico-hinduista. Ou seja, é um ciclo que, da criação, brota da divindade e tem seu fim na mesma. 

Pensando assim, pensar que homens se tornaram deuses (como diz o Hipermito, e com d minúsculo mesmo) não é uma idéia absurda. Até mesmo no cristianismo é dito que a divindade está dentro de si e de seu coração, afinal foram criados a imagem e semelhança do Criador.

Enfim, termino com este poema:

Te Deum, Soneto II – W. Federau

Com ele está a verdade.
Com milhares de perguntas atormentadoras
tentamos desvendar o enigma do universo,
as portas iradas fecham-se e os nós se atam
deixando-nos cada vez mais perdidos,
cada vez mais desesperançados
no sim e no não, entre a dúvida e a mentira:
A verdade jamais vislumbramos.
Sabemos muito e não sabemos o suficiente.
Pois cada última verdade está com Ele.
Ajuntamos pedaços, pobres fragmentos,
e nos orgulhamos de parcos espólios.
Mas de que lhe serve nossa impetuosidade?
Ele, que poderia resolver-nos todos os enigmas,
enterra seu segredo bem no fundo
– de nosso peito!

1