Matéria Desenvolvida por:
Michael Serra

Fontes
:

HESÌODO – O Escudo de Hércules
HIPERMITO – Saint Seiya Cosmo Special
SAINT SEIYA EPISÓDIO G
Theoi – www.theoi.com

OS 4 BATALHÕES DE BERSERKERES

Quem já comprou o volume 6 nacional do Episódio G viu a estranha citação de Saga sobre o deus grego da Guerra Ares. Deixando de lado a auto-comparação que ele faz com este deus e a problemática disto, reparem que na mesma cena o Mestre proclama o nome de 4 divindades que serviam a Ares nos mitos:

 

Fobos (Medo); 

Deimos (Terror); 

Keres (Garras) e 

Kydoimos (Balbúrdia).

 

A tradução da Conrad novamente foi falha – onde já se viu Fobos ser derrota? Keres não é especificamente a morte, mas sim uma das alegorias dela, morte é Tânatos! Keres, Keras ou Ker simbolizam destino fatal, cruel, de morte violenta, tão impossível de fugir delas como se prendessem sua vítima com ‘garras’, por isso o nome…

Kydoimos (ou Cidoimos, Cudoimos) não é o Caos, deus primordial, mas sim a bagunça, alvoroço, algazarra, outra figura alegórica que representa algo do tipo: cidadãos em uma conversa sadia sobre política na ágora grega começam a brigar numa discussão acalorada, isto seria uma influência de Kydoimos, que sempre provoca confusões deste tipo.

Pois bem, nesta passagem do mangá dá-se a entender que eram estes os 4 líderes dos exércitos de Ares. No Hipermito, Ares e os seus Berserkeres possuem um capítulo especial à parte, nele é dito que o deus da guerra possui quatro batalhões denominados:

 

Batalhão da Chama “炎軍団“;

Batalhão do Fogo Vermelho “火軍団“;

Batalhão do Medo “恐怖軍団“;

Batalhão do Desastre “災難軍団“.

 

Tais Bersekeres eram tão terríveis que para vencê-los, pela primeira vez na história, Atena teve que liberar o uso das 12 Armas de Libra. No fim foram derrotados ou buscaram refúgio no reino de Hades. (é o que diz o hipermito). Bem, os mais clássicos deuses gregos que serviam a Ares são:

 

Fobos; 

Deimos; 

Ênio e

Anteros.

Os dois primeiros foram utilizados na passagem inicial, contudo os dois últimos, sabe-se lá porquê, Kurumada não os mencionou. Ênio, apesar do nome é uma mulher, a deusa da carnificina. E Anteros é o deus do anti-amor. Todos estes 4 são filhos de Ares com Afrodite.

Seguindo os 4 pelotões, Fobos deve liderar obviamente o Batalhão do Medo, enquanto os demais não dá para afirmar de modo oficial, pois a ligação entre os personagens e as características não combinam totalmente, mas arrisco dizer que o Batalhão do Desastre é liderado por Deimos, muitas vezes conhecido como o deus da calamidade.

Mas por que motivos CDZ não seguiu os padrões clássicos para estes Duques de Guerra de Ares? Ao que parece Kurumada usou outras fontes para isto, tão clássicas quanto a versão mais conhecida: 


“O outro exército, assim que eles ouviram o alvoroço que surgia… repentinamente montou-se nos cavalos de patas de luz e partiram, tão logo chegando. Estes ficaram firmes e lutaram uma batalha pelas margens do rio, e eles estavam derrotando uns aos outros com suas lanças de bronze; e Éris estava lá com Kydoimos entre eles, e Keres, o destrutivo; ela estava ao lado de um homem vivo, mas ferida nova, e outro ileso, e arrastou um homem morto pelos pés com a carruagem.” 

  

Homero, Ilíada 18.535. 


“Nas mãos [Hércules] levava seu escudo, todo brilhante: ninguém já havia o quebrado ou esmagado. Era uma maravilha de se ver… No centro estava incrustado Fobos, inflexível, indizível, enquanto fitava com olhos que ardiam em fogo. A boca dele estava cheio de dentes em filas brancas, medonho e assustador, e em sua sobrancelha severa pairava o ódio assustador que toma a multidão de homens: Impiedoso era, porque tomou a mente e sensos de infelizes pobres que fizeram guerra contra o filho de Zeus… No escudo Proioxis (Perseguição) e Palioxis (Vôo) foram também forjados, e Homados (Tumulto), e Androktasias (Homicídio). A Éris também, e Kydoimos estava ao seu redor, e o mortal Keres segurando um trio recentemente ferido”.

 

Hesíodo, Escudo de Hércules – 139. 


“Toda a confusão daquela rixa desesperada sucitou matança e destruição. O Kydoimos encarnado delirou pela batalha em andamento; ao lateral dele Thanatos – o cruel, e Keres – o medonho, a escarranchar.” 

 

Quintus Smyrnaeus, A Queda de Tróia 1.306. 


“Então conhecida as frentes de batalha: o medo atingiu as mãos. Dura e cansativa era então a briga: Kydoimos encarnado espiou pelo meio, com Fonos (Massacre) horrivelmente lutando… Pelo ar reverberou um rugido indistinguível e terrível; em ambos os anfitriões caia a lança de ferro de Éris.” 

 

Quintus Smyrnaeus, Queda de Tróia 6.348.


“[Comédia na qual o daimon Polemos, espírito da guerra, enterra Irene, a deusa de paz, em uma cova]


Polemos (entra trazendo um enorme morteiro): Oh! mortais, mortais, mortais miseráveis, como suas mandíbulas estalarão! …
Polemos: Arre! Kydoimos, apareça já!
Kydoimos: O que você quer?
Polemos: Estava lá fora, né! De pé lá com braços cruzados! Ponha este capacete na cabeça como castigo.
Kydoimos: Oh! como pinica! Senhor, Para que você está com este bagulho nas mãos, posso saber?
Polemos: Corra e me vá buscar um bocado de almofariz [ingrediente para artefato bélico].
Kydoimos: Mas nós não temos mais; era só o de ontem e já usamos.
Polemos: Vá então me buscar um de Atenas, e se apresse, ande!
Kydoimos: Eu me apressarei; se eu voltasse sem um, eu não teria nenhuma causa para ir, né. (Ele escapa.)
Trygaios (locutor, para o público diz): Ah! o que é que nos reta, mortais miseráveis como nós somos? Veja o perigo que ameaça se ele trouxer uma mão de almofariz para Polemos que se divertirá intimamente combatendo todas as cidades da Grécia à pedaços. Ah! Baco! Faça este Arauto do mal [Kydoimos] perecer na estrada!
Polemos (para Kydoimos já regressado): E aì?
Kydoimos: E aí o quê?
Polemos: Você não trouxe nada?
Kydoimos: Ah! os atenienses perderam o deles, o curtidor do almofariz da Grécia morreu moendo polvilho.
Trygaios: Oh! Atena, amante venerável! é bem para nossa cidade ele está morto, melhor se ele ainda pudesse nos ter servido este guisado [o polvilho].
Polemos: Então vá e busque alguém de Esparta que faça isto!
Kydoimos: Sim, sim, mestre! (Ele escapa.)
Polemos (gritando): Esteja de volta tão rápido quanto puder.” 

 

(a comédia se encontra no fato que agora iriam causar guerra em Esparta e não em Atenas). 

 

Aristófanes, Paz 255.


Deimos, Fobos e Kydoimos, criados de Ares, os filhos da guerra; eles eram muito experientes no que Ares fazia de melhor, contudo não amedrontaram Hefestos [quando Ares foi buscar Hefestos no Olimpo libertar Hera do trono dourado]”.

  

Suidas “Deimos”

 

 

Estas são todas as passagens clássicas em que os personagens citados aparecem juntos, de uma ou outra forma, contudo nunca aparecem os quatro em um mesmo mito, principalmente chefiando as milícias de Ares. Por Suidas vemos três deles em ação, o número mais próximo. Contudo as denominações dada aos batalhões sim são citadas de forma completa, ainda que não ligadas a estes deuses. Tais nomenclaturas foram utilizadas pela primeira vez por Quintus Smirnaeus, o autor da “A Queda de Tróia”, ou seja era um escritor romano tardio. Ele apresenta os batalhões da seguinte forma:

Flogios, um Daimon. “Chama”.

Eton, um Daimon. “Fogo Vermelho”.

Metum, um Daimon. “Medo”.

Conabos, um  Daimon. “Desastre”.

Metum (cuja raiz dera origem a palavra Medo é a versão latina do deus Fobos. Contudo Flogios, Eton e Conabos são versões independentes da tradição grega, ou seja, divindades particulares não ligadas à nenhuma helênica. (Deimos para os romanos era Pavor ou Formido, mostrando como eram distintos). Entretanto, todos os daimones maques (espíritos de guerra) são de atribuições confusas entre si, mesmo em somente uma tradição, como a grega.

Ao fim das contas, Kurumada parece ter feito uma bela e simplesmente uma mistura aleatória a seu bel prazer. Usando o trio de Suidas, e para completar aquele que possuía mais citações míticas ao lado dos daimones maques, Keres.